† Fábio Silvério φ

Os anjos foram as primeiras criaturas de Deus. Uma interpretação os identifica com a "luz" criada no primeiro dia. Parece ser a posição do Pe José Fortea, exorcista. Eles foram criados mesmo antes do tempo. Como são entes livres, Deus lhes pediu um ato de Fé antes de permitir-lhes verem-n'O face a face. Nesta fase, alguns se rebelaram por orgulho, amor desordenado de si mesmos, e outros se mantiveram fiéis. Anjos de diferentes hierarquias resplandeceram com graus diferentes de virtudes, enquanto outros se corrompiam igualmente em graus diversos. Assim, há nos anjos e demônios duas espécies de qualidades: a hierarquia que ocupam e o grau de virtude ou maldade que encerram. Anjos mais perfeitos naturalmente podem ter menos virtudes que anjos inferiores em natureza. Eles sofreram tentação. Lúcifer buscava convencer os outros de que sua rebelião era justa. Alguns acolhiam as seduções dele, mas depois voltavam atrás. Deus os assistia como que quieto. A coisa chegou a um nível que era sem volta. Foi aí que os anjos convertidos em demônios foram expulsos do Céu enquanto que os que foram fiéis foram permitidos à visão de Deus. Neste processo, alguns passaram por uma espécie de purgatório na medida em que, conforme iam conhecendo a Deus, iam igualmente vendo como foi covarde de sua parte terem duvidado d'Ele, o que os fazia "chorar" amargamente.

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Depois disso tudo é que foi criado o mundo, e Lúcifer já aparece enchendo o saco no Éden. Como não pode levantar-se contra Deus, ele busca atingi-Lo indiretamente.

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Um motivo mais claro e que tem alguma tradição no Cristianismo é o de que a revolta de Lúcifer teria sido resultado de uma revelação de Deus aos anjos já da Encarnação do Verbo. Lúcifer achava razoável que, se Deus fosse se unir a uma de suas criaturas, que se unisse a ele, que era o mais perfeito. No entanto, ao saber que Deus pretendia tornar-Se homem, aquilo foi demais para Lúcifer, pois significava que ele teria de se submeter a uma natureza muitíssimo inferior à sua. O orgulho de Lúcifer não lhe permitia. Penso haver algum eco disso quando, no Corão, Lúcifer recusa ajoelhar-se diante de Adão. Essa versão parece ter sido confirmada em alguns exorcismos nos quais o demônio descreve com extrema repugnância a Encarnação.

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Fiel a quê? A uma pessoa? A um ideal? A Deus?

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A fidelidade não é uma virtude inata. Também não é um dom meramente passivo. É preciso conquistá-la. Isto significa que você terá de perder algumas batalhas. Com isso, eu não digo que o comum é que você traia a sua primeira namoradinha, e a segunda, e a terceira, nem nada disso.

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A traição enquanto ato externo de infidelidade que implica você ir lá e beijar outra pessoa é na verdade a culminância de um processo. Os atos não surgem do nada. Até você se permitir cair desse jeito você já se permitiu várias quedas interiores. O nosso problema é que a gente vai ficando tolerante com a gente mesmo. É tipo o casal de namorados que pretendem ser castos e que vão se permitindo certas coisas. Da próxima vez, eles começam de onde pararam e avançam mais um pouco, etc. Desse modo, é facinho fazer certas previsões. Tenho um amigo que está num processo de conquista de uma menina. Mas o que agora é abertamente uma tentativa de consegui-la começou com uma alegada falta de intenção. Só que eu li isso com 1000 km de antecedência e inclusive já sei o futuro. Fábio Dináh.

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A fidelidade deve começar então interiormente. Evágrio de Pôntico dizia que tudo começa com um pensamento. O pensamento se oferece, e se você se põe a considerá-lo, já caiu uma vez. Se o percebe como deleitoso, caiu de novo. Se o vê como factível, caiu de novo. Se o aceita, caiu de novo. Há muita gente cuja dita fidelidade consiste somente em ter medo. O cara é fiel não porque quer, mas porque lhe faltam oportunidades ou porque teme as consequências. Tem-se então que a fidelidade se torna teatro. E ser fiel quando não houve interiormente a tentação de não sê-lo também não tem mérito nenhum.

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Perceba então que a fidelidade exige uma disciplina interior que é muito rara no nosso tempo. Quantas pessoas são criadas aprendendo a mortificar-se? Pelo contrário. Hoje de manhã, estava eu esperando o carro pra ir a Maceió. Daí me passa uma menina adolescente com a mãe do lado. Ela escutava uma música esquisita em que o cara falava repetidamente "... me deu onda." De repente, "ai que vontade de f....". Eu escutei aquilo, olhei pra dita cuja, e ela estava sorridente brincando com a mãe, uma senhorinha humilde. Como é que existe um negócio desse? Como uma sujeita assim, que pensa com as partes, poderá ser fiel a alguma coisa?

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Além disso, namorados que têm relações a torto e a direito e que se exigem fidelidade estão na verdade sendo infiéis a Deus. Como uma fidelidade pode estar ancorada numa infidelidade tão fundamental?

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Para ser fiel, você tem que se disciplinar. Ter desejos e negá-los. Se você não consegue fazer isso, você está muito aquém da dignidade específica da natureza humana. Nós somos animais no cio? Nós somos estômagos? Que sacanagem é essa de trairmos todo e qualquer ideal por um átimo de gozo? A gente não tem vergonha não? Tem não..

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Lembrou-me uma frase do Léon Bloy: "Crer é saber no alto".

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A frase pode ser entendida de diversos modos. Um deles é a da razão como um prolegômeno da Fé. A Fé lida com objetos que estão acima das capacidades naturais da razão. Ora, se a razão humana pretende encaminhar-nos para a verdade, mas esta verdade racional é limitada, abrir-nos à Verdade em si, ainda que esta esteja acima dela, deve ser o objetivo da razão. Penso que Platão fala algo disso.

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Na Teologia Católica, dizemos que a Fé é uma virtude intelectual porque purifica a nossa inteligência, corrigindo-a dos seus erros e elevando a sua agudeza. Sto Agostinho admirava-se de ter-se tornado mais sagaz depois de sua conversão.

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Além disso, toda a operação natural da razão pressupõe um ato de Fé natural nas suas capacidades. O critério do assentimento racional sempre foi o da evidência, e crer por evidência é acreditar no que se vê, ainda que intelectualmente. Assim, a fé permeia a razão, e a Fé a transcende, enquanto que a razão aponta para ela. A razão aponta para algo além de si. Uma razão fechada é irracional.

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