† Fábio Silvério φ

Bem, não é importante o que mais me apeteça. Apetecer é ser agradável à vontade. O correcto, porém, é aderir, isto é, investir a vontade somente depois que uma interpretação corresponda ou não à realidade. Portanto, o que mais importa aqui é qual a perspectiva verdadeira.

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Então, dizendo logo: eu não sei. Mas, aí sim, tenho meus palpites.

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Uma pessoa cristã poderia apelar logo para a afirmação da inerrância bíblica e dizer: Paulo não pode estar errado. Logo, são demônios. Mas a gente acabou de ver que essa questão da tradução é, mesmo, complicada.

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Só pra dar mais um exemplo: descobri dia desses que uma grande parte dos judeus ortodoxos eram reencarnacionistas, pelo que a idéia da imortalidade da alma não lhes é estranha. Isso, inclusive, esclarece alguns eventos dos relatos bíblicos. E, no entanto, sabemos que afirmações isoladas do Eclesiastes ou dos Salmos parecem supor que não há imortalidade. Obviamente, na cabeça de um judeu não poderia haver uma contradição tão gritante. Mas é coisa que eu ainda estou pesquisando. Aqui há dois problemas: o de tradução e o de interpretação. Como a Bíblia, embora seja palavra de Deus, é escrita em linguagem humana, então não há possibilidades de resolver essas querelas totalmente apenas com base nela. Sigamos.

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A idéia para a qual tendo é a seguinte:

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O homem é criatura divina e foi feito para Deus. Essa marca é indelével. Ainda quando não possa ser satisfeita, ela dá ao homem uma intrínseca e imparável tensão transcendente. Alguma coisa deve ser criada a partir daí. Enquanto esta tensão é real, o objeto que surgirá dela terá sempre algo de real. Enquanto, porém, ela é humana e, repousando no cerne mesmo do ser, ela é mais acessível por uma certa intuição obscura, não plenamente consciente, o seu objeto, não encontrando correspondente imediato no mundo, será produto de uma criação humana. E é aqui que há uma multiplicidade de figuras, e nesta multiplicidade é que reside o erro. Então eu tendo a pensar que os deuses são modos de representação, mesmo. São racionalizações provocadas por esta matriz que é a intuição da sede divina.

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Agora, outro problema que se coloca é o seguinte: há, de fato, os contactos divinos que as religiões testemunham? Se as há, então é forçoso dizer que não se trata apenas de projeções, mas de reais entidades - supondo que não fossem fruto de delírio, o que é muito improvável, a meu ver. Estas entidades, de novo, ou seriam anjos que, na medida do possível, orientariam os humanos a compreensões mais elevadas, ou seriam demônios, originando filosofias alternativas à transcendência real, ou até Deus, aproximando, ainda que remotamente, os diferentes povos ao que Paulo chama de "Plenitude dos tempos". Essa última alternativa me é desconfortável, pois as filosofias dessas religiões orientais são tão sofisticadas e sutis que lhes é uma ofensivo dizer que eles permaneciam, de algum modo, arcaicos.

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Ou talvez, haja sociedades orientadas por anjos bons, e outras orientadas por demônios.. Enfim.

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Ele quer dizer com isso que apenas Deus é a fonte de toda bondade. Qualquer pessoa que seja boa somente o será por participar da bondade divina. Se ninguém mais pudesse ser bom, então não poderia haver qualquer distinção entre céu e inferno e a escolha de Deus seria puramente arbitrária, o que é uma ofensa à Sua justiça. É o mesmo sentido de quando Ele diz pra não chamar a ninguém de pai porque um só é nosso Pai. Isso não impede, obviamente, que alguém chame ao próprio pai de pai. Isto apenas indica que qualquer paternidade é sempre uma participação na paternidade divina. Do mesmo modo, se poderia dizer que ninguém é belo a não ser Deus, ou que ninguém é verdadeiro a não ser Deus, ou que ninguém é ser a não ser Deus, etc.

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A Virgem Santíssima é, de todas as criaturas, a que mais participa daquela bondade.

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