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☆ - “As pessoas esperavam demais dela. Esperavam sorrisos demais. Felicidade demais. Aguardavam sempre sua chegada para poderem apreciar o teatro bem feito da garota. Era como um show de ópera, minuciosamente escrito e posto em prática. Ela esbanjava alegria, mesmo não a tendo em si. Mas o fazia porque as pessoas esperavam dela. Era triste perceber que aquela pequena menina, tão frágil por dentro, tinha que se fazer de forte e carregar a própria dor em seus ombros, sozinha. As pessoas viam o que queriam, o que ela, superficialmente, mostrava-os. E nunca percebiam a verdade tão oposta. Ela não era feliz. Não era cheia de vida e de esperanças. Ela não era quem aparentava ser. Em seu íntimo, ela sangrava, chorava, gritava por socorro. Mas ninguém a ouvia, porque ninguém estava disposto a ajudá-la. Afinal, não lhes interessava o que se passava verdadeiramente. Um sorriso falso e mentiras deslavadas valem mais do que tristes desabafos e salgadas lágrimas. E ela sabia disso. A menina tinha plena consciência de que seu sofrimento deveria ser apenas dela, única e exclusivamente dela. Seria seu fardo, e teria que carregá-lo sozinha até que se findassem seus dias. Até que a última lágrima fosse despejada de seu corpo juntamente com seu último suspiro sôfrego. Seu adeus.”