"- DEIXA! Eu não quero anestésicos, Doutor - antes de iniciarmos o procedimento eu ouvi isso da minha paciente.
- Mas senhora, você precisa tomar porque isso vai doer.
- Deixa doer, Doutor - ela segurou nos meus braços e olhou no fundo dos meus olhos - a vida tem que doer, Doutor, e nós precisamos sentir.
Eu olhei nos olhos dela e ela sorria, direcionei a minha atenção para a enfermeira ao lado e com as sobrancelhas arqueadas perguntei implicitamente: "O que a gente vai fazer?". Voltei a minha atenção para aquela senhora de aproximadamente 30 anos e disse:
- Senhora, vou lhe contar um segredo. A dor vai existir, nós vamos apenas enganar o seu cérebro para que você veja todo o procedimento. Eu acho que será bem melhor dessa forma, se você desmaiar vai perder a melhor parte da cirurgia.
- Maldito cérebro! - ela parecia muito chateada e eu só pensava no porquê dela querer tanto sentir.
- Senhora, o que está achando do procedimento?
- Não sinto nada, mas poder ver tudo é divertido. O senhor está fazendo um bom trabalho, eu acho.
Eu sorri por um momento, eu estava na frente de um ser humano completamente singular. No entanto, algo ainda deixava-me preocupado: "Por que ela queria sentir a dor?"
No fim do procedimento, perguntei:
- Senhora, tenho uma pergunta antes de você partir, se me permite, é claro.
- Sinta-se a vontade - respondeu ela como se estivesse passeando em uma tarde de sábado.
- Por que a senhora desejou sentir a dor?
- Pela primeira vez, em quase trinta anos da minha vida, eu percebi que vou morrer algum dia.
Pode parecer vazio, mas eu realmente entendia o que ela queria dizer. Ela desejava sentir tudo mesmo que não aguentasse só para ter certeza de que estava viva."
ACOSR♡
{Recebida há 3 horas}

View more