“Jaz, dentre os restos da necrose acumulada, minha carne, enegrecida e putrefata, estirada no valete do chão empoeirado, servindo de ornato para ironizar o cenário do mortuário que me encontro. Vê-se o câncer exposto, minhas córneas e desilusões massacradas e misturadas sob meus ossos. Vê-se as artérias repulsando sangue coagulado pela vergonha de amar quando ricocheteava em meus pulmões ofegantes os suspiros fartos por borboletas dançando no estômago faminto de romances. Nas quinas do mármore sepulcral escorre minhas secreções internas e viscosas, umedecendo e escurecendo o piso branco. Finda-se o sofrimento mais árduo e aguardado da vida. Morri de amor da forma mais dolorosa possível. Fui esquartejado por minha falta de brio, falta de astúcia, e talvez de maturidade. Apodreci rastejando no descaso, e agora me encontro agonizando, em fase terminal à beira de uma tumba improvisada, apenas aguardando minha cura, aguardando, aguardando… o abraço congelante da morte.”