@EvelynDanielle828

♥☨ Evelyn Danielle ☨♥

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“Noite desafinada. Chove. O céu goteja no telhado, intimidando as evidências sádicas que dormem no canto dos olhos. O temporal lá fora lava as calhas empoeiradas. E, aqui, são as lágrimas, que florescem das molduras da alma rasgada primaverando a amofinação, a tristeza pelos rastros do meu brio adoecido. Quando foi que a aquarela perdeu a cor? Quando foi que agulhas do fiar se quebraram? Trovões ecoam pelo quarto. Escorre-se a estirpe no tremular das mãos fraquejadas. Minha hemorragia é interna, sem se ver por onde sangra, nem por onde anda. Tardes vazias antecipam tudo o que tenho evitado. Pesares desmoronam tudo o que há tempos caem aos pedaços. Flores de plástico em azulêncio agonizam-me pelo reflexo do vidro embaçado. Fitam-me, e devoram-me na plenitude de sua petulância. Nas lacunas de minhas lembranças engavetam-se urnas funerárias dos restos meus, das cinzas que o vento esqueceu, daquilo que sempre fui, do que era, latumia, ecos do que já se perdeu, dos retalhos de uma guerra interna. A ventania surra pingos contra a janela fechada de alumínio, e pode-se ver através de suas frestas o amarelar das luzes lá fora. Sepultei flores nos túmulos da minha áurea, como um desespero ensaiado por meu luto rotineiro. Eu me enterrei junto à elas, sequei, e morri ao perder a essência do penar. Eternizar-me-ei dentre a essência do roseiral absinto. Não há mais recordações após uma morte tranquila. Não há mais dor. Não há mais haver, nem temer, nem o que me contrarie disso tudo. Algema-se a realidade à utopia suicida… Morri por dentro, no oco da alma, nos arredores da calma, da cama, e do resto insignificante que ainda resta. Despedaçam-se as pétalas murchas sobre o valete do chão gelado, e tais deixa escapar gritos pelas rachaduras da parede rente ao piso. De tempos em ventos, outonos secam as folhas no quintal, trazendo nostalgia e prantos no cair da tarde, em quietude, com saudades afiadas fazendo morada nas memórias. Lá fora os carrilhões chocalham-se frenéticos, anunciando o inverno rigoroso que logo vem, que chega, aconchega, que me deita na cama fria pra chorar melancolias agridoces entre riso e outro. Vaguei muitos séculos pela vida à procura de um anjo que me ensinasse a cantar com os olhos distraídos por saudades de um beijo lento, ao relento, abraçar na chuva. Alguém que me presenteasse cartas de amor aos rascunhos dobradas, com borboletas fatiadas. Alguém que me domasse, e me contivesse sobre os trilhos da fidelidade alheia. Mas de toda essa angústia costurando os meus dias cinzas… Suspira a saudade que varre as lembranças. A falta de sorrisos para enfeitar os lábios pálidos meus, secos e já esquecidos de como se encurvarem quando a felicidade vozeia ensurdecedora pela caixa do correio. Não há mais tanto a dizer, nem a esperar do resto dos dias que virão. Dos silêncios que rejeitam minha existência escapam retalhos de um passado, mofado, que nem nas profundidades do tempo encontrou lacunas para se enterrar. Nos mosaicos do meu penar, orna-se me
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