[hoje meu professor me contou que
cada célula do nosso corpo inteiro
é destruído e substituído
a cada sete anos.
como é consolador saber que
um dia eu vou ter um corpo
que você nunca vai ter tocado]

disparu comme la brume
e o teu cheiro
não está
mais em mim.

aqui

acontece que a dor vem se transformando em saudade e conformismo. vez ou outra as circunstâncias insistem em te ressuscitar. as minhas paixões são fadadas ao fracasso e eu só queria um amor que não fosse escasso. o teu silêncio programado pra me destruir, me mutila. eu não fui feita pra sentir saudade. não sei lidar com o tipo de pessoa que impõe presença e a única coisa que deixa pra trás como prova de existência, é o rastro do cheiro da pele. eu te sussurro
te suplico
eu te imploro
te clamo
te gosto
te amo;
você acabou comigo.

eu pego a saia,
eu pego as pérolas brilhantes
em negro,
essa coisa que se moveu uma vez
pela carne,
e eu chamo Deus de mentiroso,
e digo que qualquer coisa que se movia
daquele jeito
ou sabia
meu nome
nunca poderia morrer
na comum verdade de morrer,
e eu pego
seu solitário
vestido,
e todo seu encanto se vai,
e eu falo com todos os deuses,
judeus, cristãos,
lascas de coisas piscantes,
ídolos, pílulas, pães,
braças, riscos,
entrega conhecedora,
ratos na cova de dois quase loucos
sem uma chance,
conhecimento de beija-flor, chance de
beija-flor,
me inclino sobre isso,
me inclino sobre tudo isso
e eu sinto
seu vestido sobre meu braço
mas
eles não vão
entregá-la de volta pra mim.

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BUKOWSKI, Charles.

o que se passa atrás dos teus meigos olhos?
por que sinto a tua sombra chegar depois de ti?
será que o tempo se prepara pro infinito?
será que eu choro por te amar e querer matar você?
mas sua calmaria me conforta sem fazer barulho, e assim, sem alarde, e o teu afago faz-se tão denso, capaz de encher qualquer vazio que ouse emaranhar.

e foi andando
como quem
quase perde
a hora do trem.
já é meia-noite
e chove
e alaga
toda a casa
e parte do meu coração
desata
o nó que te prende em mim.

reclama-se da superficialidade alheia,
mas nos assustamos quando perdemos o equilíbrio
em pessoas mais profundas.

se sentir saudades, mate-a
se perder um amor, não se perca
se o achar, segure-o.

e cada qual no seu canto
em cada canto uma dor.