Matheus Ribeiro

Estava eu com meus amigos em um bar bem simples, de baixo de uma árvore, conversando e colocando o papo em dia com um amigo que mora em outro estado. De repente, do outro lado da rua (um espaço meio de roça), surgem dois homens. Um montando um cavalo e outro conduzindo, a pé, mais outros dois cavalos. Olhamos para a cena e rimos bastante, foi uma cena inusitada.

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Pouco tempo depois, surge um amigo que havia ido ao banheiro, ele vem meio apressado e fala que roubaram os cavalos de um velho. Ele, então, chama todos que estavam na mesa pra ajudar a recuperar os cavalos do velho. Eu e meus amigos nos olhamos, de maneira indecisa e confusa. Devidos ajudar e levantamos da mesa, todos, inclusive a namorada de um dos meus amigos. E lá estávamos nós, subindo a rua, rindo da situação, brincando. Subimos a rua e paramos próximo a outro bar. Lá estava o provável ladrão de cavalos. Um amigo, grandalhão, foi na frente foi ver o que houve. Do nada, o ladrão de equinos, um homem magro, com aspecto de homem da roça e cabra macho, tira um facão, não sei de onde. O que era uma brincadeira, se torna algo sério. Quando me dou conta, se instalava uma briga de bar. Os caras do bar próximo ao ladrão de cavalos, com medo de ter confusão na frente do bar deles, começam a dar cadeiradas em nós. E que confusão... Um deles empurra a namorada. O namorado enfurecido e já meio alterado do álcool, o derruba no chão e lhe dá chutes. Ao mesmo tempo um outro amigo recebe uma cadeirada bem servida nas costas, cai com a cabeça no chão de fica desacordado por um tempo. Outro amigo dá uma voadora em um dos caras do bar. Que confusão.

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E eu, que nunca vivenciei algo do tipo, observava a pancadaria atônito, sem saber o que fazer. Me encarregaram de cuidar do amigo que caiu com a cabeça no chão. Avaliei sua cabeça. Estava abaulada, com cores em tons de vermelho e roxo, e com um corte em supercílio. E ai, tá muito feio - perguntou ele. E eu disse - é Dourado, vai ter que suturar esse corte.

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No final do dia, estava eu levando meu amigo no HRC, onde eu já trabalhei no pronto-socorro de cirurgia geral. Foi atendido sem demora. Sutura, raio-x de crânio (apesar de achar que não ajudaria, mas sim um TC), mas tudo bem, ele estava com Glasgow de 15 e sem vômitos, então a TC não era necessária. Por fim, tudo ok, o médico liberou. Fomos pra casa do amigo grandalhão.

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E que inocência a minha, que achei iria ajudar um velho que teve seus cavalos roubados e recuperá-los tranquilamente.

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O maior e melhor remédio é o médico.

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Qualquer relação entre médico e paciente deve ser pautada pela ética, o humanismo e a terapêutica científica. Há, portanto, limites a serem respeitados bem como um objetivo de tratamento. No entanto, para mim, é impossível tratar alguém sem vinculação afetiva. Não é viável avançar num tratamento sem conquistar a confiança. Não é possível aliviar a dor sem ter cumplicidade, acolhimento, escuta e respeito pela autonomia. Se essa é a minha tese, a verdadeira relação de um médico com o seu paciente representa uma relação de amizade. Sim, uma verdadeira amizade onde o carinho deve prevalecer. O compartilhamento de histórias, medos, frustrações e desejos é um ato convencional na relação médico-paciente. Em qual relação isso poderia acontecer senão numa relação de amizade? Na relação do médico com o paciente há momentos de risos, há períodos de choro bem como há espaço para o silêncio. Amigo é exatamente isso: aquele capaz de compartilhar contigo todos os seus estados de afeto. O verdadeiro médico, obrigatoriamente, tem que se envolver de forma ética com o seu paciente. Por vezes, nós, médicos, escutamos histórias únicas dos nossos pacientes que não foram compartilhadas com ninguém, mas somente conosco. Quando estamos com os nossos pacientes, sentimos o olhar, observamos o respirar e escutamos os gestos. De fato, uma prova de amizade. Se a relação médico-paciente não prosperar com amizade, atrevo-me a afirmar que nada terapêutico acontecerá no tratamento. Nós, médicos, torcemos pelos pacientes. Nós, médicos, sofremos com os pacientes. Nós, médicos, ficamos felizes com a felicidade dos pacientes. Nós, médicos, choramos escondidos com o choro sincero dos pacientes. Assim, deve ser. Assim, tem que ser. Afirmo e divulgo: meus pacientes são meus amigos. Eles sabem disso. Eles sentem isso. A diferença de qualquer tratamento estará nisso. O mesmo medicamento ou procedimento terá resultado completamente diferente entre as duas formas possíveis de relação (fria/formal e afetiva/amizade). O maior e melhor remédio é o médico. Um médico amigo é tão terapêutico que fica difícil de mensurar. Aos colegas médicos, falo isso. Aos meus alunos, futuros médicos, tento mostrar e provar isso. Afirmo que, na prática médica, há de se cultivar a relação com o paciente, pois, como bem dito por Carlos Drummond de Andrade, “a amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas”. Precisamos cultivar os pacientes e sermos cultivados por eles. Isso é um potente remédio.

Texto do meu professor, De Régis Eric Maia Barros

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