"De certa forma, sempre imaginei como isso acabaria. Mas acho que nunca fui muito boa com surpresas, nunca soube recebê-las muito bem. E o fim? Bem, o fim não poderia ser diferente. Não quero uma surpresa, não quero não saber como isso acaba. Assim sendo, acho que tenho só uma alternativa em mãos: acabar por mim mesma, para que não exista surpresa alguma.
Neste ponto, também sempre imaginei que se um dia eu mesma fosse acabar a minha própria história, como seria? De forma gloriosa como nos filmes? Ou de uma maneira reservada, quase deixar que isso passe despercebido? Será que eu deveria pedir ajuda de alguém? Avisar alguém? Ou será que deveria apenas não terminar nada e esperar pela maldita surpresa que pode vir amanhã ou daqui outros 20 terríveis anos? Não sei se aguentaria. Não sei se quero aguentar isso tudo por muito mais tempo.
Mas se essa é a última página, então creio que a história chegou ao seu fim. Nunca gostei de despedidas e temo nunca ter aprendido como deixar as coisas irem embora. E agora, bem no final, também estou achando difícil deixar que eu mesma vá embora. Eu não quero ir, eu nunca quis ir. Mas aprendi, ao longo desses anos que uma hora ou outra, cedo ou tarde, todos nós temos que ir ou deixar ir. Somos deixados, mas às vezes precisamos deixar também.
Ainda não decidi como farei, finais não deveriam ser compartilhados. Não estes finais pessoais. É um livro, eu sei, compartilhei minha vida toda por aqui, através dessas páginas, mas agora é o final. Mas se o livro é meu, tenho autoridade, ainda resta algum poder em minhas mãos, o poder do fim e o de não permitir que ninguém mais além de mim sofra com isso. Então acaba aqui, acabarei com a minha última página, de algum modo, mas este livro, ele acaba aqui. Eu, conservada nestas páginas, acabo exatamente aqui."
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