deception

preciso de contar a história primeiro:
todos os dias de manhã, quando eu ia apanhar o bus, havia um velhinho sentado nas escadas bem perto da paragem. nos primeiros dias, eu passava por ele e nem o notava ali, no seu cantinho, bem na frente de todo o mundo. ele era como detalhes que nós só vemos se estivermos perto. mas um dia, o meu bus atrasou-se e eu tive que esperar mais de meia hora pelo outro e pronto. reparei nele ali, curvado, sem expressão facial, sozinho. senti-me mal por ele, mas não o incomodei. não sabia o que dizer, não sabia como interferir. o meu autocarro chegou e eu fui. no outro dia, lá estava ele e eu de novo, não falei. e foi assim durante 1 semana inteira. outra vez, eu fui para a paragem e desta vez deixei o primeiro autocarro passar. sentei-me mesmo ao pé dele, com medo que ele me mandasse sair ou algo do género e disse 'bom dia'. ele respondeu meio reservado. eu não sabia mais o que dizer e perguntei o que faria ele ali sentado e sozinho, ao qual ele respondeu 'eu gosto de vir para aqui todos os dias de manhã. é quando eu penso melhor' aí eu perguntei se ele estava com algum problema ao qual ele respondeu que não. meu, eu achei que ele estava mentindo, porque porra, ele todos os dias aparecia lá e nunca estava feliz. então, eu perguntei 'e a sua família?' ele respondeu que não tinha família. perguntei 'vive sozinho?' e ele respondeu que vive com milhares de pessoas. eu disse então 'bom, então esses milhares de pessoas são a sua família' ao qual ele respondeu que não, pois só uma, durante anos falara com ele. e eu perguntei 'e ainda mantém contacto com ela?' ao qual ele respondeu 'estou falando agora'. maaaaaano, eu senti uma puta vontade de chorar, ele estava a li sozinho todos os dias, nunca ninguém reparou e se repararam não quiseram saber. porra, sério. eu perguntei se ele tinha onde comer ou se se alimentava bem e ele respondeu que não. eu vi o bus chegar, ainda olhei e quis entrar, mas aquele velhinho precisava de mim. então deixei o bus partir. levei-o até ao café bem próximo que tem na paragem e cheio de gente e vi ele contente, sorrindo. meeeu, era um sorriso bem diferente! ele não era aqueles vagabundos bêbados de rua não. era mt diferente! e quando ele sorriu, eu senti que tinha feito a coisa mais acertada. sério!

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