† Fábio Silvério φ

Meu bem, eu penso que pode sim. A Psicologia é um negócio autêntico, e já era usado pelo cristianismo desde o começo. Os Santos Padres, por exemplo, têm um olhar cirúrgico sobre a psique humana, e algum psicólogo contemporâneo admitiu que os principais pressupostos que a psicologia descobriu depois do seu advento já estão todos em Tomás de Aquino. Como o cristianismo é o caminho de salvação da alma, e esta salvação não se dá senão pelo seu reordenamento - Sta Edith Stein dizia que converter é reordenar -, então uma compreensão do que seja a normalidade e um método para alcançá-la têm de ser intrínsecos ao cristianismo.

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Agora, considere que a psicologia dos cristãos era um negócio visceral, sobretudo provindo da experiência, e não meramente teórica e aprendida em livros. Nada contra o que se aprende em livros, mas, dada a seriedade do assunto, é meio temerário submeter-se a um sujeito que passou cinco ou seis anos numa graduação, e aprendeu às vezes parcamente um panorama de teorias porque leu um capítulo de um autor, umas quinze páginas de um comentário, outro capítulo de outro, etc., e que já se pretende, por isso, capaz de cuidar de outras almas. Isso é um problemão. Conheço gente formada em Psico que ou reduz o ser humano a um animal mais evoluído, ou que sequer acredita numa subjetividade, ou ainda que desconhece os autores clássicos que fogem à cartilha aprendida, e assim por diante. Então, eu recomendaria a quem quer procurar um psicólogo que considere pelo menos duas coisas: a titulação do sujeito - pois um mestre ou doutor pelo menos está analisando o tema há mais tempo, embora mesmo assim não haja ainda garantia - e a abordagem que ele segue.

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Claro que independentemente da abordagem, eu penso que o psicólogo vai ter pelo menos algum treino de saber como reagir a certas coisas, e tal. E é importante ter alguém com quem a pessoa se sinta segura de conversar sem o medo de reprovações, o que, a princípio, não é tão fácil de achar. Mas isso não pode se tornar também um "passar a mão na cabeça". Enfim, pode ser benéfico, sim, sobretudo se o Psicólogo possui experiência e consegue mostrar à pessoa coisas importantes que ela não está percebendo. Também não quer dizer que todo graduado esteja ainda incapacitado de exercer a função. Tô falando de um modo estatístico. É a mesma coisa de um licenciado: não é por ter-se formado numa licenciatura que o sujeito tá preparado pra dar aula e tem gente que faria bem melhor à humanidade se nunca pretendesse ser professor. Mas isso não quer dizer que não haja professores graduados bons. Já diz um adágio: a corrupção do ótimo gera o péssimo. A Psicologia é um saber e uma profissão eminentes. Mas se não for bem exercida (pela pessoa incapacitada ou pela abordagem equivocada, como é o caso da Psicanálise), pode fazer muito mal. É como penso.

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Haveria muito a se falar disso, mas o espaço não permite. Eu mesmo já fui freudiano, mas, graças a Deus, desencanei disso. Já que você quer conhecer críticos à Psicanálise, leia sobretudo o Rudolph Allers, chamado de o "antifreud" (aqui um texto dele: http://permanencia.org.br/drupal/node/702), e o seu aluno, o argentino Martín Echevarría. Seria bom conseguir esse livro de que o Prof. Fedeli fala no segundo link: "Why Freud was wrong", pois aquela afirmação do Ferenczi, se for verídica, de fato desautoriza totalmente a Psicanálise. Leia também esse texto do Corção: http://permanencia.org.br/drupal/node/314
E também não deixe de ler isso aqui: http://istoe.com.br/248696_FREUD+E+APENAS+UMA+LENDA+/

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Mais um: http://permanencia.org.br/drupal/node/703

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Sobre o conceito de "Gnose", haveria também muitíssimo o que dizer. Esse é um dos temas mais nebulosos hoje em dia, pois esqueceu-se de que há uma gnose autenticamente cristã, como a defendeu São Clemente de Alexandria e outros vários, e, com isso, a visão da mística católica, ao menos contemporaneamente, ficou claudicante, pois tendente ao racionalismo.

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Quanto ainda à Psicanálise, há vários pressupostos nela que não se harmonizam com o catolicismo, como o conceito de "determinismo psíquico", que exclui a liberdade humana, o naturalismo, que reduz o ser humano a um jogo entre pulsões de vida e de morte, e uma inversão psíquica que, quase como Nietzsche, põe a consciência como produto de um processo doentio, como algo que surge a partir da culpa, que faz a pessoa cindir-se interiormente já que as suas pulsões encontraram obstáculo, levando o sujeito ao "parricídio" simbólico, o que origina aquela partição interna entre consciente e inconsciente, sendo o primeiro uma espécie de ajeitado moral, enquanto que a verdadeira natureza da pessoa seria esse fundo de desejo, medo, raiva, que vive sendo censurado pelo mecanismo do recalque e dando um jeito de vir à consciência sob disfarce, o que seriam os sintomas neuróticos. Neste sentido, o cristianismo, como é um grande responsável pelo espraiamento da moral, é o maior criador de neuróticos pelo menos do Ocidente.

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O René Guénon fala também da psicanálise "en passant" (ao menos do que li até agora), e ele explica do perigo de se mexer e libertar essas forças infrapessoais, causando uma espécie de descenso no sujeito, ao invés de orientá-lo para cima. Seria, então, uma forma de "contrainiciação", isto é, de obscurecimento espiritual do ser humano. E isso tudo sem falar como as sessões de psicanálise se pretenderam substituir, em vários lugares, aos confessionários, substituindo igualmente o perdão objetivo dos pecados pela autocomplacência com as próprias misérias e pela tentativa de extermínio do senso de culpa.

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