Que são protestantes como outros quaisquer, embora sejam esteticamente os mais próximos do catolicismo.
Posso me tornar um intelectual mesmo nascendo numa família iletrada, e que não me deram estímulos e recursos para tal? Posso, com dedicação, aos 17 anos, conseguir me igualar intelectualmente aos que tiveram uma boa educação desde a infância?
Desenvolva o senso de gratidão. Essa é a primeira conquista intelectual que você tem de fazer. Ser ingrato já é um erro de inteligência.E respondendo à sua pergunta: pode. Você pode até superá-los, embora não seja garantia. Mas não considere as coisas de um modo competitivo. Se você tem 17 anos, sinta-se já um privilegiado por escrever direitinho, saber usar a vírgula, etc.Se quer ser um intelectual - se tem o desejo e a mente adequados pra isso -, dedique-se. Crie as oportunidades que você crê que te faltaram.
Fábio
Pq a Ortodoxia não é tão ''orto'' assim?
Além da questão da Supremacia Papal,poderia citar outros pontos que na sua opinião são supostamente heteredoxos na Igreja Ortodoxa?
Todos os pontos de discordância com a Igreja Católica: Filioque, Telônios divinos, negação da Imaculada Conceição, negação da indelebilidade do batismo e da ordem.
Aos católicos é recomendado. Mas é possível substituir essa abstinência por outra ação devota. Se, porém, só é o que há para comer, ou se se vai desperdiçar caso não se coma, pode comer.Pede-se a abstinência como um modo de sacrifício, já que carne é um alimento do qual a maioria gosta bastante.
A magia também não tem um significado enormemente polissêmico? Não há uma infinidade de fenômenos que poderiam ser designados por magia?
Certa vez, eu lia o Daniel Goleman. Ele tem um clássico da Psicologia chamado "Inteligência Emocional". Lá ele conta o caso de um sociopata, que, tecnicamente, é alguém que não tem o senso da empatia. Este sujeito, que tinha uma mentalidade um tanto infantil, desejava uma criança lá. Por causa disso, ele a violentou. O sujeito foi preso e tal, e quando foram analisá-lo, ele afirmava que a criança também tinha ficado feliz. Ele não entendia os gritos dela. Ele supunha que ela estava gostando. Se ele não tinha consciência de fazer algo ruim, não é possível responsabilizá-lo.Num livrinho chamado "Autocontrole e liberdade", o autor conta o caso de uma pessoa que, internada num manicômio, contava como às vezes ela jogava o prato de sopa na enfermeira. A doente dizia, num momento de lucidez, que nessas ocasiões a sua consciência estava desperta, mas a sua mão se movia sozinha. A parte moral dela consistia apenas em não consentir. Agora, imagine alguém que espanca outra pessoa com um ferro, ou a mata com um objeto cortante. É possível que a pessoa não consinta, mas aja mesmo assim. De novo, não há como responsabilizar uma pessoa assim.Quando estudava Psicanálise, vi o caso de um sujeito pervertido - no sentido técnico, que é quando uma pessoa, embora conheça as regras morais, não as tem internalizadas - que tinha uma estranha compulsão em atropelar prostitutas. Ele se deitava pra dormir e ficava inquieto virando pra lá e pra cá. Daí pegava o carro, saía, passava em frente a um prostíbulo e acidentava alguém. Isso era suficiente para que ele dormisse tranquilamente. Neste caso, ele já é culpável, pois sabe o que faz, mas não totalmente, já que não possui aquele apelo moral que nós, os neuróticos, temos, rs..Então veja que há casos complicados. Os critérios são sempre esses: matéria grave, grau de consciência e liberdade.
Fábio, no caso de um psicopata estuprador e/ou assassino, um psicopata abusador de crianças etc Ele, por não ter culpa, não pode ser julgado pelos pecados mortais? Como funcionaria neste caso? Essa é uma dúvida que acho já ter perguntado pra ti, mas que ressurgiu numa discussão recentemente.
Uma pessoa só pode ser julgada segundo o seu grau de consciência e de liberdade. Se o sujeito é um autômato, ele nem tem consciência nem é livre para agir de outro modo. Se ele tem consciência, mas o seu corpo age "sozinho", tampouco tem culpa. Então essa pessoa não tem pecados. A matéria do que ela faz é grave, mas lhe falta ainda o essencial para que isso se configure um pecado pessoal, que são, como já dito, a consciência e a liberdade. Agora, se ela consente em algum grau, este grau determinará a culpabilidade do ato.
bom. não que eu seja contra casamento per si. eu parto do pressuposto (ainda que eu não os realize, frise-se) que tudo é vão para o vero caminho espiritual senão a reta contemplação do Absoluto. sendo assim, o casamento, visto como aperfeiçoamento espiritual parece inadequado e indigno.
A Graça supõe a natureza. Se o objetivo da vida humana é a realização espiritual - a santidade -, então as funções essenciais da vida humana não podem contradizê-la. Daí que a vida sexual ou matrimonial, inscrita na própria natureza humana, não podem ser impedimentos à vida espiritual. Isto pode, sim, ser considerado um caminho menos perfeito - como de fato o é -, mas não um impedimento. Há vocações distintas, o que indica constituições distintas.A "reta contemplação do Absoluto" é algo que ocorre a partir de certo estágio espiritual. Não é algo que se alcança com a própria força. A própria idéia de se apossar disso é mera extensão do próprio orgulho e impedimento total à sua realização. A idéia é, já, equivocada. Como perseguir uma realidade se a idéia dela já leva para o lado oposto?´É por isso que o que se nos pede é a Fé, não a visão.A Gnose é um estado espiritual. Se os que se diziam gnósticos eram criticados pelos Santos Padres, era porque afirmá-lo de si mesmo é pretensioso. Mas é, naturalmente, algo diametralmente oposto ao tipo de disposição interior que se demonstra em querer alcançar por si mesmo a "reta compreensão do Absoluto". Essa compreensão é termo do caminho, e não o próprio "vero caminho espiritual".
vc sabe que vc faz parte da turma tradicionalista-conspiracionista né?
Mas eu sou moderado.
Há diferença entre guardar a castidade por amor a Deus, guardar a castidade para seguir as regras morais da sociedade e por simples interesse (valorizar-se diante de pretendentes/futuros maridos que só querem virgens)?
Óbvio.Uma curiosidade sobre isso. Para Sto Tomás de Aquino, a virgindade não caracteriza exatamente a integridade do hímen ou o não ter tido relações sexuais, mas o nunca ter experimentado o prazer sexual.
Já assistiu aquela série de documentários "Igreja Católica - Construtora da Civilização"? O que acha deles?
Já vi alguns. São muito bons.
Pode explicar o que é transferência simbólica e imaginária? Obrigado.
Se aprendi corretamente quando fazia psicologia, é mais ou menos o seguinte:As nossas ações, expectativas, suposições, etc., influenciam na percepção e reação dos outros. Se, quando ajo, ajo supondo que o outro está com raiva, ele tende a assumir a posição em que lhe coloco. É por isso que quando grito com alguém, este alguém tende a gritar, também. Esse mecanismo de uma obediência inconsciente, de assumir o lugar no qual o outro me supõe, é o que se designa por "transferência imaginária". A minha idéia do outro é transferida a ele e ele a assume. Isso ocorre sobretudo porque o processo não é consciente, e, por isso, não há exatamente uma defesa. Esse tipo de comportamento seria o mais ingênuo. Alguém que age assim pode ser manipulado. Alguém que domine esse processo pode manipular outros.A transferência simbólica seria o contrário: o fato de eu não assumir o lugar no qual o outro me supõe. Se alguém grita comigo, eu não respondo deste posto em que ele me coloca. Eu respondo-o do meu. Isto aborta o processo da raiva. Isso fá-lo perder razão de ser. A unidade não se estabelece. Eu sugiro ao outro um lugar distinto. É o que se recomenda aos analistas quando, nas entrevistas com seus pacientes, estes não raro se apaixonam. Se o analista se assusta, a neurose, disfarçando-se de paixão, alcança o seu objetivo: fazer parar a análise. Se, no entanto, o analista não se deixa manipular ou impressionar, o sintoma que se manifesta como paixão não tem mais o que fazer do que abrir a guarda. O apaixonamento nessas circunstâncias é geralmente um mecanismo de defesa.Há muita gente que consegue altos postos ou fama justamente por causa disso: simplesmente porque são dados e agem como se fossem inteligentes, experientes, etc. Os que o circundam tendem a acreditar. O contrário também acontece com os inteligentes mas tímidos. Como são inseguros, e transpiram desconfiança, ninguém os leva a sério.
Como parar de sentir inveja de quem nasceu ne família culta e teve uma boa educação?
Inveja é um negócio seríssimo. É um vício já bastante espiritual, o que significa que é dos piores. Uma das filhas diretas da soberba. Ter inveja significa ficar triste pelo bem dos outros, e isso é algo já bastante demoníaco. Então, o que se há de fazer: tomar consciência total disso. Trazê-la à superfície da consciência, como li certa vez por aqui - e o Lewis fala algo similar -, e espancá-la impiedosamente.Peça a Deus a graça d'Ele pra que você perca isso. Aceite as coisas como elas são - o que significa: relaxe, perca a tensão - e peça a Deus a graça de bem agir com a matéria prima que ele te deu. Não se vitimize. Lute para desenvolver suas próprias qualidades. Reze pelo bem desses dos quais você sente inveja. E aja como se não tivesse.
Olavo de Carvalho tem alguma serventia para estudantes de Filosofia? Ou é um lcharlatão como dizem por aí? E os empreendimentos de alguns dos seus alunos, como a Confraria das Artes Liberais, o ICLS...?Vocêmeindicaalgo?
Estou bastante perdido nos meus estudos, se puder ajudar, agradeço imensamente.
Claro que tem. O Olavo tem esse negócio de ser muito falante dele mesmo, e isso abusa um pouco, de fato. Ele é um tanto pretensioso. Mas o que mais há do outro lado é gente invejosa que quer aparecer fazendo oposição. E isso é feio. Não que alguém não possa ser oposto ao Olavo, ou não gostar dele, mas desmerecê-lo sem mais é prova de desonestidade. Então, leia o Olavo, mas não vá ficar igual adolescente apaixonado. Admire a inteligência do homem, aprenda com ele, mas não dogmatize a coisa toda. Tem gente que só falta achar os puns dele cheirosos.Indico demais o ICLS. Quer saber o que é inteligência? É aquilo.
Pelo jeito, sua namorada está se interessando pelo anglicanismo.
Não mesmo. Penso que ela está interessada no dito causo das ditas mortes de supostos padres anglicanos. É um mecanismo de defesa. Mas não vou tratar disso aqui..
O que acha da obra do C.S. Lewis voltada ao público infantojuvenil?
A obra é toda boa. Li as Crônicas de Nárnia, que ele adverte ser voltada às crianças. Mas não há como qualquer adulto não aproveitar. Aslam é fascinante. Lewis é genial.
Fábio, por que é tão comum que os bebês sejam batizados? Não seria melhor batizar a pessoa quando ela está consciente disso e pode optar por livre vontade?
O batismo cristão é diferente do batismo de João batista. Este último era um batismo de conversão, e como tal pressupunha a maturidade da consciência. Os protestantes geralmente entendem o batismo desse modo. Mas isso é uma deturpação posterior.Na verdade, o batismo tem outra função: é incorporação na família de Deus, algo análogo à circuncisão para os judeus. Todos nascemos com o pecado original, que nos impede o acesso a Deus. Então veja que mesmo antes dos nossos pecados pessoais, há algo que nos veda o Céu. O batismo serve para aplicar os méritos da Redenção na alma de uma pessoa. Destrói o pecado original e gera na sua alma a Graça divina. Fá-la filha de Deus. Daí ser necessário que uma pessoa entre no influxo redentor o quanto antes. "Quem não nascer de novo da água e do espírito não pode entrar no Reino de Deus." Isso inclui até as crianças.Ninguém vai ao céu por mérito próprio. É sempre por graça. Quando a pessoa estiver crescida, porém, terá ocasião de confirmar ou não a sua Fé. Se o fizer, fá-lo pelo sacramento da Crisma.