† Fábio Silvério φ

Os estigmas são provocados pelo intenso amor que a alma sente por Deus. Logo, percebe-se que estas feridas amorosas devem ter sua raiz no interior, de modo que, quando aparecem no exterior, são daquelas chagas apenas reflexo. Diz São João da †:

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"Se Deus, por vezes, permite que se produza algum efeito exterior, nos sentidos, semelhante ao que se passou no espírito, aparece a chaga e ferida no corpo. Assim aconteceu quando o serafim feriu a São Francisco: chagando-o de amor na alma com as 5 chagas, também se manifestou o efeito delas no corpo, ficando as chagas impressas na carne, tal como foram feitas na alma ao ser chagada de amor. Em geral, não costuma Deus conceder alguma mercê ao corpo, sem que primeiro e principalmente a conceda no interior, à alma."

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Sobre a presença dos serafins, diz Sta Teresa D'Avila:

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"Quis o Senhor que eu tivesse algumas vezes esta visão: eu via um anjo perto de mim, do lado esquerdo, em forma corporal, o que só acontece raramente. O Senhor quis que eu o visse assim: não era grande, mas pequeno, e muito formoso, com um rosto tão resplandecente que parecia um dos anjos muito elevados que se abrasam. Deve ser dos que chamam querubins, já que não me dizem os nomes, mas bem vejo que no céu há tanta diferença entre os anjos que eu não os saberia distinguir.Vi que trazia nas mãos um comprido dardo de ouro, em cuja ponta de ferro julguei que havia um pouco de fogo. Eu tinha a impressão de que ele me perfurava o coração com o dardo algumas vezes, atingindo-me as entranhas. Quando o tirava, parecia-me que as entranhas eram retiradas, e eu ficava toda abrasada num imenso amor de Deus. A dor era tão grande que eu soltava gemidos, e era tão excessiva a suavidade produzida por essa dor imensa que a alma não desejava que tivesse fim nem se contentava senão com a presença de Deus. Não se trata de dor corporal; é espiritual, se bem que o corpo também participe, às vezes muito."

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Obs: a santa não sabe distinguir entre querubins e serafins.

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Sobre a natureza ígnea do fenômeno, diz Sta Teresinha:

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"Começava a minha Via Sacra quando, de repente, fui tomada por um amor tão violento pelo Bom Deus, que não posso explicar isso senão dizendo que era como se me tivessem mergulhado toda no fogo. Oh! Que fogo e que doçura ao mesmo tempo! Eu ardia de amor e sentia que um minuto, um segundo a mais, e não conseguiria mais suportar tal ardor sem morrer."

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Termina São João da Cruz:

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"Acontece-lhe, então, sentir que um serafim investe sobre ela, com uma flecha ou dardo todo incandescente em fogo de amor, transverberando esta alma que já está inflamada como brasa, ou, por melhor dizer, como chama viva, e a cauteriza de modo sublime. No momento em que é cauterizada assim, e transpassada a alma por aquela seta, a chama interior impetuosamente irrompe e se eleva para o alto com veemência, tal como sucede num forno abrasado ou numa fogueira quando o fogo é revolvido e atiçado, e se inflama em labareda."

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É uma interessante questão. Eu consigo pensar em duas coisas.

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Primeiramente, nos sacrifícios do Templo de Jerusalém, no grande Dia da Expiação (Yom Kipur), o sacerdote tomava consigo dois bodes. Depois de lançar sorte, entregava um a Deus, e o sacrificava. O outro era enviado a Azazel, uma entidade demoníaca que habitava nos desertos. Este bode, depois de receber, pela imposição das mãos do sacerdote, os pecados do povo, era solto para ir ao deserto. Daí o termo "bode expiatório". Alguns dizem que o próprio bode é Azazel. Mas na verdade, Azazel é uma entidade pessoal a quem o bode era levado.

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O outro é que o famoso Pentagrama Invertido parece formar a cabeça de um bode: baphomet. As pontas do bode seriam as duas pontas do pentagrama. As duas laterais seriam as orelhas. E a ponta inferior, a barba. Há vários significados para esse símbolo. Num deles, as três pontas inferiores seriam a negação da Ss. Trindade, e as duas pontas superiores seriam a polaridade constituinte do cosmos. Outro significado seria que os quatro elementos - que simbolizam o cosmos - , representados pelas pontas laterais, estariam convergidos para baixo, e não para o alto, inversão que é própria de satan.

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Não são. Tudo vem de traduções e interpretações equivocadas.

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A primeira flagrante contradição é que, pretendendo reviver o Pentecostes - que é sempre o paradigma das ditas manifestações -, o fenômeno vai na linha absolutamente oposta da real manifestação do dom das línguas: no Atos, todo mundo se entendia. Nas reuniões pentecostais, ninguém se entende; é uma baderna. Nos Atos, o fenômeno ocorreu sobre a Igreja e o Apóstolo Pedro, o primeiro Papa, pregou em seguida convertendo cerca de 3.000 pessoas. Nas reuniões pentecostais, geralmente a coisa ocorre contra a Igreja - no protestantismo - ou com total abstração pela hierarquia eclesiástica - na RCC. Lembro que na minha fase de carismático, eu já estranhava muito a hierarquia interna carismática, uma espécie de emulação da hierarquia católica. Nas visitas que fazíamos, era recomendado que a pessoa rezasse e pedisse os carismas; nunca que tivesse vida sacramental. E por ter nascido em ambiente protestante, este suposto carisma contribui para impedir a unidade da Igreja, pois todos consideram que, recebendo os dons onde e como estão, eles não precisam vir à Igreja.

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Em seguida, como se sabe, aquilo foi um dom. Nas enrolações da língua de hoje qualquer um aprende a fazer aquilo. Eu, que deixei há muito de ser carismático, posso imitar o fenômeno sempre que eu quiser, inclusive pra fazer troça. Achas mesmo que o Espírito Santo me daria um dom pra fazer troça?

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O dom das línguas servia para que os apóstolos, entrando em países cujas línguas eles desconheciam, pudessem se comunicar. Os milagres muito frequentes serviam para o mesmo. Depois que a Igreja se estabeleceu, era natural que esses fenômenos escasseassem, embora estivessem sempre presentes aqui e ali na vida dos santos. Isso é dito por Sto Agostinho, Sto Ambrósio, etc.

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Existem, contudo, três tipos do fenômeno das línguas. Num deles, ocorre o já descrito. No outro, Paulo diz que se alguém profetiza em línguas, que haja quem o interprete. Isso não indica a ininteligibilidade do dito, mas o seu caráter misterioso, utilizando-se de símbolos cujo significado escapa ao vulgo, uma espécie de vera gnose. O exemplo que eu sempre dou é o dos Cânticos dos cânticos. Ler aquilo desavisadamente vai te dar a idéia de uma historinha, com traços vez e outra sensuais. No entanto, bem entendido, ele conta a aventura mística do amor entre a alma e Deus. Basta ler um comentador místico daquilo pra você ver como isso tudo está velado, e como é possível de se descortinar diante dos teus olhos. Este segundo caso, a Igreja sempre o interpretou como ocorrendo na Liturgia quando, depois das leituras, o padre as explica.

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No entanto, há um trecho que poderia dar margem a uma linguagem incompreendida tanto pela pessoa como pelos ouvintes. Paulo diz que "o que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito." De novo: não se deve compreender do "ninguém o entende" a ininteligibilidade do que é dito.

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