† Fábio Silvério φ

O mundo sofre um processo geral de degradação, também com relação às religiões. Somente um mundo totalmente desorientado é capaz de suportar a mera idéia de um Valdemiro Santiago. É preciso o cara estar cagado das idéias pra considerar aquilo sequer uma boa paródia do cristianismo. Aquilo é uma piada de muito mal gosto e, não obstante, ganha "fiéis" a torto e a direito. Isso é um sintoma. Agora me diga como um povo assim pode fazer o mínimo julgamento sobre religião, que é uma coisa tão sutil e complexa?

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Este processo de avacalhação geral do sagrado tem dois resultados: 1- a desorientação interna dos fiéis cristãos, e, como consequência disso, 2- a evasão do vero cristianismo para as versões supersticiosas e que sirvam aos caprichos mais superficiais da natureza. Num mundo assim, não se espante de a verdade ter cada vez menos adeptos e de mesmo os seus adeptos somente o serem, em grande parte, por uma espécie de inércia.

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A Igreja não deve reformular nada. O que ela deve fazer é voltar às suas práticas tradicionais.

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Desculpe a demora. É que há tanto pra se falar disso. Mas vamos ao essencial.

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Jesus diz que só Deus é bom. Isto significa que se alguém quiser ser bom tem que participar da bondade d'Ele. A santidade pode assim ser entendida como participação. Esta participação tem, óbvio, graus.

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Ninguém pode decidir-se a ser amigo de Deus por puro amor, porque isto pressupõe uma bondade habitando inatamente no homem. Se a união com Deus só ocorre depois da decisão de converter-se, e, mesmo assim, depois de um longo tempo de experimentação, então o primeiro passo será necessariamente um passo interesseiro. Mas é um início.

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Este primeiro grau - um tipo de esperteza - é o que Deus chama, nos Diálogos, de "amor mercenário". É o amor que ama querendo algo em troca. No caso, quer a glória do céu e quer se safar do inferno, e outros favores. Ora, querê-lo não é ruim, pois a nossa natureza tem um primeiro movimento positivo de autopreservação e de escolha daquilo que nos faça bem. Só que isto não pode ser dito ainda amor, a não ser com muitas aspas. Na verdade, houve uma transposição do egoísmo para o campo espiritual. Não obstante, Deus o aceita, porque o amor d'Ele, ao contrário do nosso, é perfeitíssimo e absolutamente desinteressado. Embora ele vá mexer na alma.

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Conforme se aproxime de Deus, a pessoa tende a ascender ao segundo grau do amor, que é um amor razoável. Ela quer fazer coisas pra Deus, mas o pressuposto é que, como ela e Deus são amigos, Deus naturalmente terá de fazer algumas coisas em troca. Veja, não é que ela troque obras por graças. É que ela acha que esse intercurso de demonstrações de afeto é o mais natural. É na linha de transição deste nível para o outro que a alma entra em crise.

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Chegando ao terceiro nível, que Deus chama de "perfeitíssimo", a alma adquire um amor profundamente desinteressado, e só lhe interessa fazer a vontade de Deus sem receber nada em troca. Isso não tem nada a ver com neurose, como o querem alguns. Ao contrário, a pessoa adquire tal sobriedade interior que consegue divisar claramente os veios de egoísmo de todos os seus atos precedentes, e atina que até agora ela não fez nada, e como é loucura exigir algo de Deus, que já lhe dá tudo. É uma transcendência total sobre o ego. Neste estado, dizia uma santa: "Senhor, se eu te amar por interesse do Céu, me exclua dele. Se for por medo do inferno, jogue-me nele. Mas se for por amor de Ti, oh Senhor, não me escondas a Tua face."

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Veja o que escreve Sta Teresa D'Avila: "Que mandais fazer de mim? Dai-me riqueza ou pobreza, exaltação ou labéu; dai-me alegria ou tristeza, dai-me INFERNO ou dai-me CÉU; doce vida, sol sem véu, pois me rendi toda, enfim: que mandais fazer de mim?"

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Pra terminar, embora pareça algo distante, há muita gente no mundo que vai muito adiantada. Então não confie num senso de que "todo mundo ama a Deus por interesse." A maioria sequer ama a Deus, é verdade, pois isso supõe esforço, e a massa tende para baixo. Mas, embora poucas, essas almas existem.

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