† Fábio Silvério φ

Acho que o exemplo mais claro disso são os sociopatas. Como eles não têm as hesitações interiores que turvam o olhar de uma pessoa moral, o pensamento deles geralmente é muito claro, e isso lhes permite compreender e calcular certas coisas com mais facilidade.

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De fato, há pessoas que são inteligentes por natureza. A pessoa que é inteligente não será boa necessariamente, já que a bondade é uma questão de escolha e, depois, de manutenção da direção optada, até que aquilo se torna uma disposição natural. Uma pessoa que optou por ser má, chegando ao ponto de gostar disso, não perde, por isso, a inteligência recebida e cultivada. O demônio é o maior exemplo, penso eu.

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Agora, uma questão: a inteligência é basicamente a percepção clara da realidade, em todas as suas dimensões. Como a realidade possui várias dimensões, é possível que umas pessoas captem algumas delas, enquanto que outras captam outras. Pessoas que captam faixas diferentes da realidade poderão se olhar com desdém, mas esse desdém não se deve exatamente àquilo que captaram, mas àquilo que deixaram de ver. Logo, o desdém, não obstante a inteligência da pessoa, provém da sua cegueira, isto é, da sua burrice.

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A bondade é uma dimensão da realidade. Uma pessoa má perde a sensibilidade a esta dimensão, de modo que, neste ponto, ela fica burra. Logo, é possível que uma pessoa tenha áreas de inteligência e áreas de burrice. Assim, a inteligência, por si só, não é compatível com a falta de caráter. O demônio é muito inteligente, mas é burro na mesma medida. São Cura D'Ars falava isso: "O demônio é astuto, mas é muito besta". René Guénon também dizia que "o demônio não pode deixar de ser tolo".

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Sócrates atribuía a maldade à ignorância. Buda também. O conceito de pecado cristão vem do grego "Hamartia", que quer dizer "errar o alvo", ou seja: peca-se porque não se é tão inteligente naquele ponto específico.

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Então, concluindo: pessoas podem ser inteligentes em umas coisas e burras noutras. Todos nós temos os nossos pontos cegos. As pessoas sem caráter tornam-se burras na dimensão moral, o que significa dizer que elas deixam de ter uma apreensão clara da realidade nesse ponto.

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Existem duas formas de sentir culpa: uma pela consciência do que se causou a outra pessoa, e outra pela descoberta de que não se é tão perfeito como gostaria. A primeira, mais sadia, concentra-se no outro; a segunda, mórbida, concentra-se em si mesmo. Nesse segundo tipo, a pessoa está excessivamente focada em si mesma porque está com medo; ela é insegura e quer garantir de que está livre de ameaças. Ela sabe que as imperfeições serão punidas. Então, por uma questão de narcisismo, ela se inquieta, observando-se neuroticamente. Essa pessoa é puramente lógica, mas os seus pressupostos e a sua intuição geral estão equivocados.

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Deus é bom. Esse é o pressuposto que, se faltar, tudo o mais desanda. Um pequeno erro no começo gera um grande erro no fim. Há pessoas que consideram que a vida espiritual deve ser tão sufocante que elas não podem sequer respirar fora do tempo correto. Quando, na verdade, Deus nos pede para voltarmos a ser crianças, e o típico da criança é a espontaneidade, o agir despreocupadamente.

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A tua intuição básica de Deus parece estar equivocada, e nada de bom vai surgir disso. "O amor lança fora o medo", diz São João, um melancólico, também. O amor não é algo que se pode conhecer apenas teoricamente. É preciso fazer a experiência. Saber do amor por teoria é como saber de uma cor por ouvir falar. O amor, portanto, é uma experiência que gera liberdade, já que ele tira o medo. Alguém que conheceu Deus para além da teoria percebe que pode ser autêntico e espontâneo diante d'Ele, sem tantos receios. Para não nos assustar, Ele veio a nós como uma criança indefesa e inofensiva. Na Cruz, para que não pensemos que Ele é agressivo, Ele foi a pura docilidade. Você deve levar Deus a sério, claro, mas leve a sério essa ideia básica de que Ele é bom. Não tome as orações, leituras e sacramentos como deveres que você deve cumprir como um soldado, mas veja isso tudo como oportunidades de estar com Quem é a própria bondade e a própria beleza.

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Tire um pouco a visão de você mesmo. Exponha-se e ponha-se em segundo plano. Não se importe tanto consigo. Olhe pra Deus somente, e se se sentir culpado, que não seja pelos riscos que você está correndo com isso, mas por ter magoado o coração d'Ele, que é tão bom.

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Existe. São coisas contrárias, na verdade. A Filosofia é a busca sincera da verdade por meio da inteligência. A verdade é a adequação entre intelecto e realidade. Nessa relação, é o intelecto quem se submete ao real, que lhe preexiste.

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A ideologia é o movimento inverso. A pessoa parte de um pressuposto e o utiliza como lente para interpretar a realidade. Dessa forma, a complexidade do Real é violada para que as coisas caibam na ideologia.

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Enquanto que, na Filosofia, a inteligência é a rainha do processo e a vontade apenas atua mantendo puras as intenções, na Ideologia é a vontade quem comanda, impondo as próprias posições adotadas, e a inteligência atua como uma escrava, procurando meios, num segundo momento, de tentar defender racionalmente aquilo que se está defendendo.

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O efeito da Filosofia é a verdade e o desenvolvimento da inteligência. O efeito da Ideologia é a violência e o obscurecimento da inteligência pela hipertrofia da vontade.

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