Porque vivemos num torpor profundo? se a nossa natureza real é luminosa, como podemos ser tão ignorantes e procrastinadores, buscando vergonhosamente o contigente?
Depois do pecado original, ficamos assim. Nos movemos a partir de cálculos de prazer e desprazer. Tendemos a só fazer o que nos agrada. A nossa verdadeira natureza, como o tesouro escondido, está enterrada sob tanto entulho. Tirar todo o lixo dá trabalho. E nós não queremos ter trabalho. Então, deixamos como está.
Numa resposta há um tempo atrás você citou que existem 3 vias segundo João da Cruz, mas falou apenas das duas primeiras: Iniciante e proficiente, mas não falou da terceira.
Caríssimo, desculpe a demora. Tive de ocupar-me com umas coisas. Mas vamos nós.A terceira etapa da vida espiritual é a chamada via iluminativa, que procede das anteriores, chamadas purgativas. Enquanto estas últimas são vias de remoção dos empecilhos, isto é, são o modo como você vai se dispondo para Deus, a via iluminativa é a razão de ser da purificação anterior, pois é quando a sabedoria de Deus é comunicada livremente. Uma vez que os impedimentos foram retirados, resta agora fruir de Deus. Portanto, neste estágio, o próprio Deus começa a revelar-Se à alma. Daí receber o nome de iluminativa, pois Deus ilumina aquilo que antes era visto como treva. Só então a alma se dá conta dos tesouros que adquiriu a partir das densas noites que atravessou.Deus aí começa a ensinar infusamente, de modo que a alma entende grandes coisas sem saber como aprendeu aquilo. Os temas são principalmente dois: a Encarnação do Verbo e a Redenção. Ela aprende em pouco tempo muito mais do que o faria em vários anos de estudo. Entender infusamente algo é muito diferente de entender "por notícia", como diria S. João da Cruz. Um exemplo: S. Bento José Labré ficava encantado com uma simples aula de catequese dada pela criança mais ingênua. E por quê? Porque quando ela dizia que Jesus tinha assumido a natureza humana, ele não o entendia como o entendemos nós, mas de modo visceralmente real como que por dentro da coisa.Depois de algumas dessas formações, a alma pode ser elevada ao grau de noivado espiritual. Então o próprio Jesus começa a aparecer a ela; mas logo ele se ausenta. Aparece e some. Por causa disso, costuma-se compará-lo ao cervo, pois, segundo se diz, o cervo, quando caçado, aparece e some com facilidade. Nessas fugas, o amor da alma cresce violentamente ao ponto de se tornar um tormento real. A coisa é tanta que ela corre o risco de morrer de saudade. Nós, meros iniciantes, não podemos ter senão uma vaga noção do grau de amor de quem chega aí. Morrer por Jesus para ela é o que há de mais fácil. Se ela perseverar, pode chegar naquele que é o mais alto estágio de santidade possível nessa vida: o matrimônio místico. Jesus então se dá inteiramente, com comunhão total de bens. Neste ponto, a alma torna-se uma com o Verbo, embora continue sendo criatura. Mas participa de tal modo das faculdades divinas que se parece, na expressão dos santos, mais Deus do que ela mesma. Deus é como um fogo que a consumiu e a tornou fogo, também. Ela é, na expressão forte de S. João da Cruz, "deus por participação". Alcançada esta altura, ela readquire o estado de inocência perdido em Adão, e permanecer nesta vida torna-se algo sem muito sentido a não ser o de fazer o que agrade a Deus. A vida mortal aí é como uma teia tênue a separar da outra. Esta outra vida, a da eternidade, então lhe é tão evidente, que é como se estivesse ao alcance da mão.Se você encontrar uma alma nesse estágio, você pode não entender direito o que ocorre, mas a sua tendência natural vai ser se ajoelhar.
Interessante a sua exposição sobre as tatuagens... Passei muito tempo querendo fazer uma, mas não tive coragem ainda. Quem sabe qualquer dia eu tatue. Um "F", talvez? rs...
O que geralmente você canta nos casamentos? Surgiu essa curiosidade. =P
Varia.. Canto Suely Façanha, Davidson Silva, Grecco, Anjos de Resgate, Shemah, Filhos de Davi, Márcio Todeschini, Eliana Ribeiro, Enes Gomes, Pe. Zezinho, e algumas músicas próprias. Vez ou outra, quando pedem, é que eu inovo um pouco. No casamento da minha prima, cantei "She", de Elvis Costello. Neste mesmo - na festa -, toquei "mdc" do Raul Seixas pro esposo dela cantar.. rs No de uma amiga, cantei a "Ave Maria", de Gounod, etc.
Um pouco de clássico, um pouco de gregoriano, bastante de música japonesa (não tradicional), chinesa, coreana, gosto de symphonic metal, gosto daquelas músicas de quem tá com dor de cotovelo, gosto do Renato Russo cantando italiano..
Rapaz, não sei muito bem, mas penso que não seja muito a favor, não..Se você for olhar o que diz, por exemplo, o Pe. Paulo Ricardo - que se tornou um grande referencial pra muita gente -, a tatuagem, por ser expressão de rebeldia, seria errada de todo. Mas há indícios de povos cristãos que se tatuavam, desenhando cruzes e sinais cristãos em partes do corpo. Se há algo que podemos tirar disso é que a tatuagem não é um mal em si, mas somente segundo o seu significado ou o de quê que ela é expressão. Alguns dirão também que é errado porque tenta 'melhorar' o corpo dado por Deus e, portanto, expressaria ingratidão. Mas se assim fosse, ninguém se bronzearia, nem pintaria os cabelos, nem usaria batom, etc. Enfim.. Se a Igreja tem uma posição definida, eu não sei. Agora, se me perguntar o que penso eu, eu não gosto, mas não condeno.
Olá! Tudo bem?
Se não for incômodo pode falar ou mesmo indicar um livro sobre o conceito de salvação? Como ela é? Como se processa? Nela há o sentido de "eu"?
Obrigado pela atenção. :-)
E parabéns pelas respostas, são muito boas.
Olá, Tump! Agradeço. =)Bem, não conheço nada que fale exatamente sobre esse processo, pois, pelo menos na Liturgia católica, ele é em absoluto inefável. Isso é dito por São Paulo ao escrever que o coração humano nunca imaginou o que Deus preparou para os que O amam. Deus Pai também fala, nos Diálogos com Sta Catarina de Sena, que a linguagem humana é muito pobre para referir essas coisas.Contudo, o conceito de eu mantém-se, sim. Só que ele não é este eu egocentrado que carregamos por aqui. Alguns vêem uma referência ao verdadeiro eu no nome que, segundo o Apocalipse, cada um receberá numa pedra branca. (cf. 2,17) Então há 'eu', sim. Só que é o 'eu' real que está subjacente ao falso eu. O legal é que dá pra despertar o verdadeiro eu ainda antes de morrer. Só que é um trabalhão e projeto pra vida toda.Sobre estas questões do 'eu', te indico o melhor livro que li sobre isso: "A Experiência Interior", do Thomas Merton. Sobre a manutenção do eu no estado de santidade, te peço que veja esse vídeo. Talvez já o conheças, mas, se não, tá aí:https://www.youtube.com/watch?v=B1F1LkW2l8k