† Fábio Silvério φ

O início do desenho é basicamente uma sondagem do mundo interior do Light. Escutamos a voz interna dele se queixando de que o mundo está apodrecendo. Este é o pano de fundo para entender a atitude dele quando encontra um instrumento capaz de "dar um jeito" na coisa. De repente, ele viu que tinha nas mãos um poder que poderia mudar o rumo dos fatos. Podemos tachar o Light de maluco, mas o que faríamos nós se tivéssemos um Death Note em mãos? Certa vez, eu falei num chiste: "a esperança do mundo seria um Death Note". Sabe o que é um chiste? É quando uma verdade é dita de maneira jocosa para que seja melhor aceita.

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Ter este poder em mãos seria uma tentação semelhante à do Cristo. De fato, muitos de nós pensamos que o papel de Deus seria alimentar a humanidade, transformando as pedras em pães. Mas Ele não o fez. Por causa disso, outros messias foram erigidos: sempre barrabases criados à medida humana. Se tivéssemos um Death Note em mãos, estaríamos a um passo de nos autodivinizarmos transferindo para nós o direito de julgar os criminosos óbvios, ou, pelo menos, de nos afirmarmos os escolhidos de Deus para a "limpeza" do mundo. E note: o Kira fez um trabalho muito melhor com o Death Note do que quando o caderno ficou nas mãos daqueles empresários. O caderno da morte explora o nosso senso de justiça. Para o Light, o que ele fazia não era errado; era correto. E muitas pessoas que o acompanhavam anonimamente o tinham por herói. Na vida real, quantos de nós ficaríamos ao lado do L? O que fascina no L é muito mais a inteligência e o "jeitão" do que a posição. E o Light, por mais que seja inteligente, é apenas um amador diante do Ryuzaki.

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Mas a questão é essa: se houvesse um caderno assim em nossas mãos, o que faríamos? Você o usaria?

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Veja: existem dois modos de oração em línguas. O primeiro modo é o que aconteceu em Pentecostes. E o que aconteceu lá? O Espírito Santo permitiu que os Apóstolos falassem em línguas estrangeiras, não estranhas. Cada um dos que estavam lá os escutavam falar no seu próprio idioma. Isto, primeiramente, simboliza a total oposição da Igreja aos construtores de Babel. Em Babel, os homens buscaram chegar aos céus pelo próprio esforço. Era o "sereis como deuses" da antiga serpente que ainda ecoava na alma deles. Por este motivo, Deus lhes dividiu as línguas a fim de que não se entendessem.

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Em Pentecostes, pelo contrário, como o que reina é um espírito de humildade, o próprio Céu vem ao encontro dos Apóstolos e faz com que todos os que os escutam os entendam. A linguagem da Igreja será, então, aquela que o mundo inteiro deverá conhecer. Ela é um símbolo do "fazei de nós um só espírito".

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Depois, como os apóstolos tinham que difundir o Evangelho por todo o mundo, e havia pressa em fazê-lo, tanto que Jesus lhes proíbe de saudarem as pessoas pelo caminho, então não havia tempo de eles entrarem num curso de idiomas a cada vez que chegavam num país diferente. Por isso, o Espírito Santo lhes concedia falar no idioma estrangeiro sem que fosse preciso aprendê-lo antes. Este fenômeno foi ficando escasso na medida em que a Igreja alcançava o mundo inteiro, ainda que ele tenha aparecido vez ou outra na vida de alguns santos posteriores.

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Depois, a "oração em línguas" também quer referir-se à prática de falar algo que ninguém entende, como o diz São Paulo, mas isto não significa que seja algo ininteligível, mas, antes, algo cujo sentido nos escapa. Por exemplo, vamos supor que estamos caminhando eu e você e, de repente, testemunhamos um crime. Daí eu começo a falar: "o pijama que outrora secava no varal, agora voa sobre as nuvens provocando raios." Veja: você entendeu as palavras que eu falei, mas não apreendeu o sentido. No seu íntimo brota um: "que diabos é isso?" ou, como diria ainda o Kiko, você se indaga: "que será que ele quis dizer?". Note que São Paulo diz que se há quem fale em línguas, haja quem interprete a fim de que o entendimento não fique sem fruto. Este preceito foi aplicado pela Igreja à Liturgia, onde escutamos os textos bíblicos e, em seguida, os padre os explica.

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Do "chalalá" nem sinal, então, a não ser na música do Dragon Ball.

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